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sexta-feira, 23 de julho de 2010

O CHARME E O FASCÍNIO DOS "VERMELHOS"


MATERIA DE : MARIANA LAGE ( JORNAL PAMPULHA)

Sentada na porta de casa, solitária, numa rua deserta sob um sol escaldante, uma menina ruiva soluça em desalento. À espera de quê, não se sabe. Na paisagem, apenas uma pessoa a esperar o ônibus. "Numa terra de morenos, ser ruivo era uma revolta involuntária", descreve o narrador a respeito da menina, personagem do conto "Tentação", da escritora Clarice Lispector. Contudo, eis que, dobrando a esquina, surge sua "outra metade nesse mundo": um basset ruivo.

A identificação da pequena ruiva com o cão de pelo vermelho coloca em destaque o sentimento de não-pertencimento, de diferenciação e até isolamento que muitas crianças ruivas experimentam durante a infância e adolescência. Apelidos como cabeça de fósforo, pica-pau, cabelo de fogo e até grampola (referência a uma personagem da novela "Indomada", exibida pela Rede Globo em 1997), marcaram meninos e meninas que depois, na vida adulta, são reconhecidos como detentores de uma beleza extraordinária.

Apenas 4% de toda a população, os ruivos desde sempre despertaram fascínio e curiosidade, ao mesmo tempo em que foram estigmatizadas pela história - os gregos acreditavam que eles se transformavam em vampiros depois de mortos e os egípcios enterravam seus homens de cabelos vermelhos ainda vivos em homenagem aos seus deuses.

 
Ser diferente

O ano passado, uma exposição da fotógrafa inglesa Jenny Wicks em Londres mostrava uma série de imagens de ruivos acompanhadas de seus relatos sobre o preconceito que sofreram. Mas, se por um lado, hoje ainda exista algum tipo de discriminação - principalmente no Reino Unido, onde se concentra a maior população de ruivos do planeta - na internet, nas passarelas ou nas salas de espetáculos eles adquirem outro status, chegando a ser, inclusive, objeto de pesquisa de sexólogos tamanho encanto que despertam.

Motivada pelas memórias da infância, a atriz norte-americana Julianne Moore escreveu seu primeiro livro infanto-juvenil "Morango Sardento", contando como conseguiu superar o apelido pejorativo. O livro, que já vendeu mais de 50 mil exemplares nos Estados Unidos, chegou ao Brasil no final do mês passado. "Todas as crianças do bairro caçoavam do meu cabelo ruivo e das sardas", conta a atriz em entrevista para Cosac Naify, editora responsável pela edição brasileira. Ela explica que o apelido veio de um suco instantâneo muito popular nos Estados Unidos entre os anos de 1960 e 1970. "Eu achava o apelido muito humilhante. Depois, ao crescer, vi que não era tão ruim. Era até bonitinho".

A atriz Débora Bloch, que assina a quarta capa do livro, tem visão semelhante. "Eu achava feio ser sardenta", conta. Contudo, as coisas mudaram depois que se tornou adulta. "Quando a gente é criança, sempre pensa que é melhor ser diferente do que a gente é. Mas quando cresce, descobre que tanto faz".

Seu pai, o também ator Jonas Bloch, conta que não sofreu tanto preconceito ou diferenciação. "Os cabelos não provocaram tantos comentários como as sardas. Tanto eu como a Débora temos sardas, o que sempre gerou comentários simpáticos. Se houvesse algum preconceito de alguém, seria de uma pessoa menor, que não merece respeito", afirma. "As pessoas diferentes da maioria costumam ser discriminadas. É medíocre uma atitude como essa. Como diz Caetano em sua música: ‘Narciso acha feio o que não é espelho’", analisa.



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