Sou fruto do acasalamento entre um loirão, filho de italiano, de cabelo liso e uma mulata , filha de baiana, de cabelo afro. O cruzamento entre essas duas espécies, resultaram numa coisa ruiva. Eu. Minha infância foi normal e eu nem era ciente de que era um ser humano diferente. Com, aproximadamente, 7 anos, eu passei a perceber que era comum as pessoas me chamarem de "Russo"...até aí, tudo bem.Com um certo tempo, na escola, perguntavam se eu havia me molhado e não enxugado, começaram a me chamar de "Ferrugem" e nas aulas de Química, de "Óxido Ferroso"(FeO)..."arroz doce com canela" e "pizza com orégano", por causa das minhas sardas. Me chamavam também de "cabelo de fogo", e de FireHair nas aulas de Inglês. Os coleguinas botavam suas mãos sobre minha vasta cabeleira ruiva e começavam a simular um incêndio chaqualhando as mãos e gritando "Ai, ai!". Eu era tido como bobão. Aquilo me deixava p...! Todo mundo que chegava perto de mim, dizia: "_Ih, você tem um monte de manchinhas no rosto, né !? Você nasceu com o cabelo assim mesmo? Mas eu conseguia suportar.Um fato que é muito comum, que ocorre com os ruivos, é ser confundido com outro ruivo, promovendo uma analogia à frase "Japonês é tudo igual". Em um belo dia, fui jogar bola na quadra perto da casa da minha tia, e todos me apelidaram com o nome do único ruivo que morava e, talvez, que eles conheceram pessoalmente ao longo de suas vidas até aquele momento. Todos os moradores que se dirigiam a palavra à mim, sem excessão, me perguntavam se eu era irmão dele e aquilo me perturbava abundantemente. Mas o fato de eu ter essa característica em comum com ele, me custou um pescotapa. Um colega dele me confundiu com o mesmo e, brincando, encheu a mão pra dar o pescotapa, como forma de carinho.Mas a pior coisa que aconteceu na minha vida, ocorreu no ano de 1997, quando eu tinha 9 anos, foi a existência a novela A INDOMADA. Não tive mais sossego...comecei ouvir coisas do tipo: GRAMPOLA...não consegui mais suportar...quase entrei em depressão. E pelo fato de eu "cair na pilha", era zoado mais ainda...era eu passar na rua em frente aos meus colegas que eu começava: SOU ROSA VERMELHA, AH, BEM QUERER, BEIJA-FLOR SOU TUA ROSA...eu era humilhado, rebaixado, descriminidado...praticamente uma vitima de "bullying". Desde aí, eu já estava certo de que eu não era uma pessoa "normal"... "Obrigatoriamente" eu comecei a aceitar a minha classificação de estranho perante a sociedade e, conseqüentemente, comecei a me sentir solitário e excluído, como se eu houvesse sofrido uma anomalia genética no período de gestação de minha mãe.Na adolescência, descobri o descolarante e a água oxigenada e, pra fugir dessa perseguição, comecei a adotar um visual ousado, com cabelo amarelo com o pretexto de querer estar na moda. Se bem que ser ruivo nesse mundo já é, automaticamente, algo extremamente ousado. Desde então, esse visual passou a ser uma característica cotidiana minha. A água oxigenada e a amônia passaram a ser minhas "drogas", onde eu fiquei dependente.Até que recebi uma notícia da minha prima: ela disse nossa outra prima ligou pra me informar que estão precisando de ruivos pra atuar em uma peça, pois ela havia assistido uma entrevista no Programa do Jô. Imediatamente iniciei uma investigação através de um site pouco acessado e que quase ninguém conhece, o YouTube, onde eu achei essa edição, onde o Jô entrevistou o Pedro Monteiro. A partir do momento em que assisti essa entrevista, comecei a não me sentir mais solitário e excluído do mundo, pois pessoas estranhas, assim como eu, estão unindo forças para sejamos classificados como seres-humanos normais e não sub-mutantes, porque se fôssemos mutantes, pelo menos poderíamos ser equiparados a X-Man, o que não seria nada mal.Nós devemos fazer com que os ruivos estejam na moda...que as pessoas pintem o cabelo de ruivo assim como pintam de loiro...que sejamos cobiçados por sermos raridade. Também devemos elaborar uma estratégia genética para aumentar o nível de reprodução ruiva, e consigamos aumentar a nossa porcentagem evitando nossa extinção.